Paper apresenta os desafios na Avaliação e Monitoramento dos Parques Tecnológicos
Pesquisadores fizeram uma análise crítica do Sistema Paulista de Ambientes de Inovação
Os parques tecnológicos brasileiros foram concebidos como mecanismos para fomentar o desenvolvimento regional. Estruturados como espaço híbrido de experimentação, esses ecossistemas de inovação reúnem universidade, indústria e governo interagindo na construção de novas soluções para os problemas complexos enfrentados pela sociedade. Contudo, a real eficácia destas iniciativas ainda precisa ser comprovada, dado o déficit de ferramentas adequadas para seu monitoramento e avaliação. Pesquisa desenvolvida por pesquisadores do FGV Cidades buscou preencher essa lacuna, ao investigar como o Sistema Paulista de Ambientes de Inovação (SPAI) tem orquestrado os incentivos para os parques tecnológicos paulistas.
De autoria da coordenadora executiva do FGV Cidades, Patrícia Mello, e do pesquisador principal deste Centro, Maurício Serra, professor da Universidade de Campinas (UNICAMP), o estudo foi desenvolvido a partir da combinação de pesquisa qualitativa com a construção de um modelo lógico de parques tecnológicos. Os pesquisadores utilizaram a metodologia de mapeamento de processos para desvendar os pontos fracos na conexão entre os componentes do modelo no SPAI.
Segundo os resultados da investigação, houve um alinhamento adequado nos insumos, mas as ações não foram eficientemente incentivadas, o que levou a resultados incoerentes com os esperados. A análise revelou, ainda, a necessidade de uma estratégia mais robusta no SPAI para alinhar ações e resultados com as expectativas do modelo lógico. Na avaliação da pesquisadora Patrícia Mello, embora tenha sido bem planejada em sua origem, a política dos parques tem sido descontinuada sem passar por um processo que identificasse se os objetivos foram de fato alcançados.
“Para escolher os lugares onde os parques tecnológicos iam ser implantados, eles levaram em conta uma série de estudos e capacidades de impacto que as partes gerariam nas regiões. Nós observamos que, na formulação, realmente estava muito coerente com o modelo lógico da literatura; na hora do monitoramento das atividades em si, a gente percebeu que houve uma descontinuidade”, afirmou.
O SPAI foi regulamentado pelo Estado de São Paulo em 2014, e compreende o Sistema Paulista de Parques Tecnológicos (SPPqTec), a Rede Paulista de Incubadoras de Empresas de Base Tecnológica, a Rede Paulista de Centros de Inovação Tecnológica, e a Rede Paulista de Núcleos de Inovação Tecnológica. Atualmente, são seis parques credenciados de forma definitiva, implantados nos municípios de São José dos Campos, Piracicaba, Ribeirão Preto, São Carlos, Santos e Sorocaba.
Modelo Lógico dos Parques
Segundo os autores, por conta das peculiaridades dos parques tecnológicos, os métodos tradicionais de avaliação de políticas eram insuficientes. Optou-se, assim, pela abordagem de modelo lógico, que estabelece conexões entre o problema que a política deve resolver e o seu resultado final, tanto de curto quanto de longo prazo.
Para a elaboração do modelo lógico, foi realizado um levantamento da literatura para entender quais seriam os resultados esperados de um parque tecnológico, se ele fosse considerado realmente uma política pública.
Segundo Mello, a importância do estudo está em, justamente, trazer o olhar da avaliação da política para os parques, usualmente tratados como empresas. “A política de parques tecnológicos não era vista inicialmente como uma política pública. Como não se tem claro que é uma política pública, não havia nenhum tipo de avaliação desse tipo de ambiente”, explicou.
A pesquisa identificou um descompasso entre o que foi pensado originalmente para os parques e o seu desenvolvimento. “O resultado foi a seleção de indicadores sem qualquer coerência com os processos de credenciamento e monitoramento. A grande maioria dos dados exigidos não guarda nenhuma relação nem com o modelo lógico dos parques e muito menos com a própria lógica pensada para o SPAI”, explicou Mello.
Distritos de Inovação para o desenvolvimento regional
O pesquisador Maurício Serra ressaltou a importância da formulação de indicadores, para que os parques tecnológicos de fato sejam propulsores do desenvolvimento regional. “O que a gente está verificando, amparado em uma literatura Internacional, é que os parques tecnológicos estão se transformando, estão se direcionando para distritos de inovação”, ressaltou.
Segundo ele, como ambientes de inovação que congregam diversos atores, os Parques têm um potencial de promover o desenvolvimento da região onde estão inseridos. Os ganhos podem, assim, ser econômicos e sociais.
“Isso sempre será fruto de uma interação entre os agentes económicos dentro desse ambiente de inovação, onde cada ator tem que ter muito claro o seu papel. E o governo tem que ter muito claro o que é que ele quer, o que é que ele espera dos parques. Então, tendo isso em mente, os parques podem dar uma contribuição muito relevante para o processo de desenvolvimento social e econômico das regiões em que eles estão inseridos”, defendeu.
TÍTULO DO ARTIGO: Orquestrando parques tecnológicos como Política Pública para o desenvolvimento econômico regional: uma avaliação do Sistema Paulista de Ambientes de Inovação
DOI: https://doi.org/10.20396/rbi.v22i00.8671062
MELLO, Patrícia; SERRA, Maurício. Orchestrating technology parks as a Public Policy for regional economic development: an assessment of the São Paulo System of Innovation Environments. Revista Brasileira de Inovação, v. 22, p. e023019, 2023.
Por Clarissa Viana/FGV Cidades